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João Pessoa, Paraíba, Brazil

As Cheias

Quando eu e Ângela nos preparávamos para o réveillon, eis que aconteceu a primeira cheia. Bem na véspera, ela amanheceu cheia de dores. Socorrida para a maternidade, precisou ser internada. Aquela barriga cheiona estava cheia de ameaças por que perdia líquido (amniótico), decorrente de uma intensa infecção urinária. Temi a tudo e recorri a Maria cheia das graças pela sua gestação que, prematuramente, ainda no sétimo mês, entrara em trabalho de parto. Mas, não nasceu. Ângela comemorou a virada de ano estirada no leito do hospital, sob a companhia da competente equipe médica, a qual esteve ao seu lado em cada segundo que foi necessário. Santa Ângela, meu senhor, conseguiu segurar a luz para dar-nos depois, permanecendo, heroicamente, naquele estado por três semanas e meia. Eu, com a cabeça cheia de ansiedade, todos os dias estava lá para visitá-la.  Presencie, por vezes, verdadeiras cheias de mulheres  na sala de observação para pacientes em situação de alto risco. Elas, prestes a parirem, se misturavam em diferentes classes e gerações para gerar mais uma. Ângela era a única que eu percebia está sempre alegre e sorridente ao esbanjar fraternidade e brincadeiras para descontrair aquele clima tenso. Os dias foram passando... Somente em 18 de janeiro de 2011, às 17 horas, ela voltou a ficar cheia de dores. Deveras ter tomado garrafas cheias de dores do parto. Quatro sofridas horas depois a maternidade ficou cheia de choro. Bastou uma chamada... Pronto, nasceu, pensei. Confirmada a boa nova, postei minhas mãos cheias de lagrimas no rosto e, logo, as soergui daí para um tanto mais acima apontando e agradecendo como quem entrega, apenas em suaves palavras, aquela vida cheia de esperança que provera numa noite linda por natureza. Eu estava na varanda lá de casa sendo banhado por um clarão incandescente que descia do céu límpido de verão: era noite de lua cheia. Sobre mim, uma enorme lua cheia de brilho, esplendorosa e lúcida, anunciava o nascimento de alguém ainda muito pequenina, mas que já chegara cheia de felicidades, cheia de saúde, cheia de paz, cheia de amor, cheia de braços para lhe afagar, cheia de beijos para lhe cobrir. Bem que nesta fase o satélite que nos clareia poderia se chamar LOUISE VITÓRIA CHEIA. Parabéns, Ângela. Boas vindas, minha filha. 
Dilsom Barros